É engraçado ser santista. Ninguém jamais acredita de primeira quando você diz que torce para o Santos, e há sempre aquela necessidade de achar uma explicação para a gente ter escolhido o nosso time: “Você é de Santos?”, “Seu pai te forçou?” ou “Ah, você só deve ser santista por causa do Neymar”. E, por fim, aquela famosa e “supercriativa” provocação: “Mas você é muito nova para ser santista…”. O fato é: não sou de Santos, meu pai não me forçou – ele apenas apontou a direção correta –, eu tenho menos de 50 anos, sou mulher e, sim, tenho uma eterna relação de amor e ódio com o Neymar.

O futebol sempre esteve na minha vida por causa do meu pai, de forma positiva e negativa ele o trouxe para casa, o jogo controla desde o canal da televisão até o seu humor. Tem duas coisas a que o meu pai assiste: ficção científica e futebol. Eu nunca consegui ver um “Star Wars” até o fim, mas conseguia tranquilamente acompanhar qualquer 0 a 0 sem dormir, e foi aí que percebi que tinha vocação para aquilo.

O Santos é o que me aproxima do meu pai, é o que faz com que por 90 minutos possamos sentir as mesmas emoções, sejamos um único coração disparando e acalmando, disparando e acalmando… Até o apito final. Ao lado dele eu aprendi a defender e discutir futebol, e aprendi também a regra mais importante: “Se não aguenta, não provoca”. Nunca o vi caçoando de ninguém, e nem enaltecendo seu time para pessoas alheias ao tema.

Futebol é torcer para pessoas que não sabem seu nome, é pagar ingressos caros para ver espetáculos horríveis, é ficar embaixo de chuva e não enxergar nada, é ir dormir às duas da manhã porque a adrenalina não abaixa, mesmo tendo de acordar às 6h no outro dia… É um amor tão puro que nada, absolutamente nada, vai mudar no dia seguinte, ganhando ou perdendo, você sabe que não vai receber aumento, não vai ficar nem mais bonito, nem mais magro, mas por alguma razão vale o sofrimento. Pagamos para sofrer, e se pudéssemos pagaríamos mais só para ver nosso time ganhar.

Sou muito agradecida pelo fato de o meu pai ter me apresentado ao Santos, tenho orgulho do meu time, orgulho de pertencer a uma nação tão apaixonada e tão pouco valorizada. Sou santista até morrer, tenho certeza de que vou honrar o time para sempre porque, ao contrário de muitos jogadores, eu tive o melhor tutor do mundo, e tenho noção do peso dessa camisa maravilhosa.