Ser torcedor fanático de futebol é algo enigmático. Se você parar para pensar em tudo o que faz por seu time e o que recebe em troca, com certeza vai perceber que não faz sentido algum essa idolatria. É tanto sofrimento, unhas roídas, dinheiro gasto, tempo perdido, e então por que será que fazemos tudo isso? Bom, posso dizer que fazemos tudo isso para sentir pequenos momentos de glória, que passam tão depressa, mas fazem valer cada cabelo branco que o futebol nos dá.

Começo meu texto dessa forma para contextualizar o que eu senti quando o Lucas Lima perdeu o pênalti no domingo. Eu sei que pode parecer besteira e um sentimento imaturo, sei também que muito disso é uma não superação da ida dele para o rival, mas eu não ligo de assumir minha felicidade momentânea depois que ele desperdiçou a cobrança. Tanto fazia o campeão, a “divida” dele já estava paga.

Dizem que ser corintiano é saber sofrer dentro de campo, então completo dizendo que ser santista é saber sofrer fora dele. É ligar a televisão e não achar notícias de qualidade sobre o clube, é ter de pagar pay-per-view para acompanhar o time e corrigir os narradores e comentaristas com suas informações superficiais. É ouvir todo mundo falando que o Santos sem o Lucas Lima não renderia nada em 2018…

Eu concordo que a falta de um meia é um grande problema do nosso elenco, mas um jogador nunca será maior do que o Santos Futebol Clube. O meia que saiu para jogar em estádio cheio lotou uma arena para ver a vitória do maior rival, o meia que estava cansado de perder e ser vice conseguiu passar o maior vexame em um jogo feio, com mais cartões e participação da arbitragem do que futebol… O meia que tatuou uma cobrança de pênalti vestindo branco e preto foi dormir na noite de domingo com apenas aquele mesmo título paulista conquistado.

Eu entendo que devemos parar de remoer o passado e arrumar o time para encarar 2018, mas eu não consigo deixar essa situação de lado. Não estamos sem um meia desde janeiro, o Lucas Lima não jogou em 2017 pelo Santos, não está rendendo o que esperavam dele com os R$ 10 milhões anuais investidos, seria banco se o Scarpa fosse legalmente comprado e, definitivamente, não vai para a Copa do Mundo. O Lucas nos fez torcer por ele e gritar seu nome no estádio mesmo já vendido para o time do Palestra Itália, isso me incomoda demais porque ele fez uma torcida inteira de boba. A mesma torcida que já tem de lutar todos os dias para ganhar espaço e credibilidade.

E, no final das contas, venceu o time limitado e sem banco de reservas, mas com um elenco unido, sem egos e salários exorbitantes. Futebol não se compra e certas camisas são mais pesadas do que qualquer jogador. O Paris Saint-Germain está fora da Champions League, o Manchester City tomou de 3 a 0 nas quartas de final, o Flamengo não foi nem para a decisão do Carioca e o Palmeiras perdeu o título em casa para o Corinthians.

Eu sei que a derrota do Lucas não nos faz ganhar nada, continuamos eliminados na semifinal, mas me motiva a escrever que somos muito maiores do que ele. Já estamos sem meia há muito tempo, e eu prefiro que a diretoria assuma logo a falta desse jogador a uma nova notícia nos iludir a cada semana.

Futebol não se compra, se joga. São 11 contra 11, 90 minutos de raça e talento e ainda bem que nenhum dinheiro vai poder mudar isso.