Talvez eu quebre algumas expectativas com este texto, que não é sobre a provável contratação do Dodô, nem sobre a recuperação do Bruno Henrique ou sobre o clássico contra o São Paulo, é sobre um Menino da Vila, e eu tenho muito a dizer sobre ele.

Além de ser uma santista mulher, com menos de 25 anos, nunca ter morado em Santos e não ter nenhuma habilidade dentro das quatro linhas, eu guardo comigo mais um “ponto fora da curva”: sou uma defensora intransigente do Neymar.

Não sou uma neymarzete”, dizer isso é extremamente pejorativo (fica a dica), até porque sou apaixonada pelo seu futebol, pelo atleta que ele se tornou e por tudo o que conquistou do lado do Santos. Jamais gostaria dele se não tivesse vestido a nossa camisa alvinegra. Acho que as pessoas não conseguem entender quando uma mulher tem um ídolo homem, sempre julgam que se ela gosta é porque o acha “bonitinho”, nunca pensam que pode ser pelo seu talento.

Cheguei ao primeiro dia da faculdade extremamente orgulhosa dos meus cadernos com Neymar na capa, minhas amigas lembram disso até hoje, e não era esse Neymar francês, era o cara do moicano loiro mirradinho cheio de marra. Minha parede era repleta de Santos, e principalmente do seu camisa 11. Aquela foto clássica do time quando ganha um campeonato preenchia meu quarto… Paulistas, Copa do Brasil, Libertadores… Que tempo bom para gostar de futebol. Tenho até uma postagem no meu Instagram indignada rasgando o Ganso da minha parede, marcando minha primeira grande revolta no futebol – mal sabia eu que o Lucas Lima apareceria na minha vida.

Estou falando tudo isso porque sinto que as pessoas falam demais, e muitas vezes são hipócritas. Falar do Neymar dá ibope,  criticá-lo dá mais ibope ainda. Neymar é o primeiro grande craque brasileiro nesta época absurda e abusiva das redes sociais, talvez ele não esteja lidando com isso da melhor forma, mas é a forma que encontrou. Ele pode vestir qualquer cor, sua motivação ainda é aquela que nos conquistou desde o começo: ousadia e alegria.

Se ele traiu ou roubou o Santos? Ninguém nunca vai ter certeza do que aconteceu naquela transação. Mas o que eu sei é como ele me fazia sentir ao vê-lo jogar, e do orgulho que eu tinha ao dizer que ele era um Menino da Vila, da motivação extra que eu tinha para ir aos estádios, e da ausência desse sentimento atualmente, o que faz a torcida cantar: “Ah, mas que saudade, de quando meu Santos jogava com vontade”. Ninguém vai aos estádios esperando ver um jogador sensato e calmo, até porque Gabigol acabou de chegar e já queremos que ele seja cruel.

Nós falamos mal de suas atitudes, julgamos seu comportamento, mas o que mais esperamos são novos Neymares dentro de campo, o futebol precisa de Neymares. Rodrygo mal apareceu e as comparações já surgem, porque somos uma torcida totalmente viciada e dependente desse tipo de jogador – e isso é maravilhoso. Criamos esse tipo de monstro porque sem ele o jogo fica sem graça, temos de aprender a responder mais com a bola no pé e menos digitando no celular.

Não consigo esquecer meu pai gritando no estádio: “Joga simples, Neymar, p***!!!”. Mas, neste momento, desculpa, pai, vou te contrariar e dizer, por favor, Neymar, nunca jogue simples, porque ninguém nunca foi melhor do mundo jogando simples.