Nossa colunista Anita Efraim e o pai na conquista da América (Crédito: Arquivo pessoal)

Há algumas semanas, comprei ingressos para assistir o jogo do Santos contra o Avaí. Meu pai não estava em São Paulo. Estava de férias e tinha ido viajar. Eu ia com meu marido quando… percebi que o jogo era no mesmo horário de um outro compromisso inadiável que eu tinha.

Fiquei extremamente frustrada, mas não tinha escolha. Vendi meus ingressos para um grande amigo que teve a oportunidade de levar o pai para a Vila Belmiro e assistir um jogo legal demais – sem a minha falha, ele não teria conseguido, porque os ingressos logo se esgotaram. Ter proporcionado essa experiência pra ele e pro pai dele mexeu muito comigo, porque os momentos mais felizes que tive com meu pai foram no estádio.

E pode até parecer mentira – eu juro que não é, podem perguntar pra ele! – mas essa história começou lá em 2002, em uma derrota para o São Paulo, no Morumbi, por 3×2.

Minha mãe e minha irmã são são paulinas, mas não ligam muito para futebol. Meu pai e meu irmão são santistas. Eu, que tinha 6 anos naquela época, ficava pensando: se todas as mulheres da minha família são são paulinas, eu não deveria ser também?

A questão é que a paixão que meu pai sentia pelo Santos me contagiava muito. E durante esse jogo, que foi aquele jogo em que Diego subiu no símbolo do São Paulo no Morumbi, mesmo com a derrota, eu percebi que meu coração já tinha time: o Santos Futebol Clube.

De lá pra cá, tanta coisa aconteceu! Naquele mesmo ano, o título brasileiro. O de 2004… Lembro do meu primeiro jogo no estádio. Foi no Pacaembu, um empate em 1×1 com o Flamengo (só não me perguntem o ano rs). Na fase adulta, meu pai sempre foi um torcedorzão de sofá, com uma certa preguiça de ir ao estádio. Fui eu quem mudou isso na vida dele.

Insisti demais para ele me levar à Vila Belmiro. Assistimos todas às finais daqueles inúmeros campeonatos paulistas que o Santos venceu nos últimos anos (e também na derrota para o Ituano em 2014). Estávamos lá no jogo contra o Oeste em que Neymar estreou, também naquele 9×1 contra o Ituano e no fatídico 5×4 contra o Flamengo na Vila Belmiro – como ficamos bravos naquele dia!

Em 2010, acompanhamos muitos, muitos jogos daquela campanha vitoriosa. Inclusive a virada contra o Grêmio na Vila Belmiro. Fomos juntos para Salvador para assistir a final da Copa do Brasil em 2010!

Em 2011, o ano mais incrível que vivemos como santistas, estivemos nos jogos mais marcantes da campanha da Libertadores. Inclusive na final. Tenho certeza que aquela noite no Pacaembu foi um dos dias mais felizes de toda a minha vida.

Graças ao Santos eu e meu pai colecionamos momentos incríveis. Felizes e tristes – felizmente, as lembranças são, em sua maioria, de vitórias e alegrias.

Esse fim de semana não foi de alegrias para o nosso time, né, pai. A gente torce pro destino estar fazendo graça e o destino ser o mesmo de 2002, quando fomos campeões apesar da derrota por 3×2 no Morumbi.

Meu pai me ensinou a amar futebol. Me ensinou e ensina sobre futebol a cada jogo. Meu pai nunca, nunca, nunca me disse que eu entendia menos de futebol por ser mulher. Meu pai sempre me incentivou em tudo que eu faço e é meu grande companheiro de vida, especialmente quando o assunto é Santos.

Obrigada, pai.

Devo a você todo amor que sinto pelo Santos. Santos, devo a você os melhores momentos que dividi com meu pai.

Essa história só me lembra que uma derrota não muda em nada essa relação. Pelo contrário, só fortalece.