Santos eliminou o Boca Juniors e é finalista da Libertadores (Crédito: Ivan Storti/Santos FC)

Engraçado olhar o título do meu último texto: “Santos, me ajuda a te ajudar”. Parece até que eu não estou falando do time que está na final da Copa Libertadores. Claramente nenhum time no mundo é tão imprevisível como o nosso e eu não poderia estar mais deslumbrada por essa final, mas com certeza ela não é um reflexo do ano e nem dos grandes personagens de 2020, ela é uma consequência da recuperação linda de um amor à camisa e de muita coragem para ir além das estatísticas e representar o mais puro valor do futebol: suor e confiança, muito além de investimento e expectativa.

Não é um time, são histórias de vida e hoje eu finalmente me sinto representada por elas.

Um comando abusivo e centralizador, credibilidade zerada no mercado, fama de caloteiro, um impeachment sofrido, uma posse de um vice autêntico, casos de racismo, machismo, envolvimento com jogadores condenados, ignorância e muita falta de respeito foram os principais temas do ano passado… E, em meio a essa turbulência, um elenco recém formado se tornou um dos melhores da América e isso é mérito apenas e exclusivamente de bola rolando – não só dos atletas, mas de toda sua preparação física e técnica.

O Santos estreou no torneio continental com Everson, Pará, Lucas Veríssimo, Luis Felipe, Luan Peres, Evandro, Sanchez, Pituca, Yuri Alberto, Sasha e Soteldo em uma época de pura desilusão pela saída de Sampaoli. Metade desse elenco nem joga mais no Santos, dois saíram a partir de processos contratuais, um eu nem sei onde joga e o outro era uma esperança de joia que não vingou.

O Santos se reformulou em 2020 e, se não fosse o transferban, essas perdas seriam repostas por Elias, José Welinson, Thaciano, Cazares e tantos outros nomes cogitados. Me pergunto onde estariam John, Joao Paulo, Sandry, Lucas Braga e Bruno Marques se tudo não tivesse acontecido exatamente como foi e para onde iriam os famosos 100 milhões em reforços que a Vila Belmiro tanto precisava? Só se for para bancar o arrependimento de quem assistirá essa final no sofá em Belo Horizonte.

Eu não sou muito de acreditar em destino, mas com certeza esse time se uniu por razões diversas na hora e no momento certo, Sanchez como capitão jamais usaria a frase do tão questionado Alison: 4% é muito. Era preciso que o nosso Alison, o MMAlison falasse isso. Nós todos somos parte de algum 4% e muitas vezes a gente esquece disso. Entre 8 milhões de santistas espalhados pelo mundo inteiro eu sou uma privilegiada de poder trabalhar com isso, me comunicar, ser ouvida e respeitada.

Se não vier o título, que venha pelo menos o ensinamento que esse time, lotado de santistas de coração, jogadores que dão a alma e até mesmo o sangue em campo estão fazendo com que a imagem do Santos Futebol Clube brilhe novamente.

Esse time, a tal quinta força de São Paulo, foi contra tudo e contra todos, e é por conta deles que voltará a existir o sonho de ser um menino da Vila, de jogar onde Pelé e Neymar jogaram, de vestir esse manto, de conquistar sua imagem no muro e ser eternizado ao lado daqueles que conseguiram em 62, 63 e em 2011 a glória eterna.

Esse confronto pode ser muito equilibrado em questão de habilidade ou de talentos individuais, mas nada se compara ao que essa equipe representa no coletivo e tudo o que ela conquistou sendo humilde pra C* – nas palavras de Alison – para que a gente levante todos os dias veja o quanto somos vencedores.

Aliás, em momento de pandemia poder estar vivo, ao lado de quem a gente ama e assistir o Santos na final da Libertadores é a maior sensação de gratidão que podemos sentir.

Eu não sou jogador, minha história não tem nenhuma relação com as dos onze que estarão em campo, mas hoje eu bato no peito e sinto que esses caras me representam, porque dentro das nossas tão opostas trajetórias a camisa do Santos nos uniu e eu não poderia me sentir mais honrada ao saber que dia 30 são eles que vão correr por mim.

Eu sou 4% e é um orgulho que nem todos podem ter.