O técnico Ariel Holan comanda o Santos desde o início do mês (Crédito: Ivan Storti/SantosFC)

Por Bruno Benevides, especial para o Espaço do Torcedor do DIÁRIO DO PEIXE*

Ainda é cedo para cravar se o trabalho de Ariel Holan dará certo em termos de conquistas. Todos sabemos que uma sequência de resultados ruins – mesmo com tantas experimentações no Campeonato Paulista, por exemplo – pode ser o suficiente para que as cornetas de plantão deem as caras no clube. No entanto, para entendermos o mundo que nos separa das antigas comissões técnicas, precisamos analisar 4 pontos fundamentais de seu trabalho: relação comissão técnica x jogador, confiança na base, métodos de treinamento e comportamento perante imprensa, torcida e funcionários do clube. Vamos lá!

Relação comissão técnica x jogadores: Desde antes da sua chegada, Holan estava ciente das dificuldades do clube, principalmente pela restrição em fazer contratações. Até onde se sabe, não questionou ou reclamou da situação, mas procurou encontrar soluções disponíveis. Mesmo antes do seu primeiro treino, já tinha relatórios de grande parte do elenco profissional e da base. A comissão técnica se deu ao cuidado de pesquisar o máximo de informações necessárias de cada atleta para que o processo de filtragem fosse o mais justo possível. Assim, ao chegar e observar cada um no dia a dia, ele pôde combinar os dados que tinha em mãos anteriormente com a análise presencial para tomar decisões coerentes.

Até o momento, Holan tem dado oportunidades para vários atletas em jogos do Campeonato Paulista, independentemente da idade ou história no clube. A impressão que se tem é que ninguém tem ou terá cadeira cativa no time. Esse tipo de postura serve para motivar os que se viam desacreditados e tirar os “titulares” da zona de conforto.

Aos poucos, ele e sua comissão vem listando aqueles que precisam ser emprestados e aqueles que podem ser negociados em definitivo, reduzindo assim o elenco e enxugando a folha de pagamento também.

Confiança na base: Já vimos muitos treinadores dizendo que gostam de trabalhar com a base, que não têm medo de lançar jovens jogadores e outros tantos clichês. Já vimos também esse tipo de discurso ir pro água abaixo na primeira dificuldade. Esse não parece ser o caso de Ariel Holan.

Muitos devem ter se surpreendido quando o zagueiro Kaiky estreou, aos 17 anos, como titular no Campeonato Paulista contra o Santo André. Alguns se surpreenderam ainda mais ao vê-lo estrear como titular na Libertadores da América poucos dias depois, coroado com o gol da vitória. Assim é a maneira que Holan vê o futebol: sem medo de dar oportunidade para quem tem qualidade.

Holan é capaz de colocar Gabriel Pirani, que também nunca havia jogado profissionalmente até esse ano, numa partida decisiva de Libertadores. É capaz de deixar a joia Ângelo até o final de praticamente todos jogos, mesmo tendo apenas 16 anos. É capaz de buscar posições alternativas para Vinicius Balieiro, por exemplo, pois vê potencial no garoto.

Nosso treinador não apenas os coloca para jogar, ele busca orientar antes, durante e após os jogos para que melhorem cada vez mais. E isso será fundamental na evolução dos nossos meninos.

Métodos de treinamento: Confesso que quando vi a primeira imagem divulgada da comissão técnica de Holan em campo, vibrei entusiasmado: “Ciranda cirandinha nunca mais!”. Pois bem, ali era o início de uma nova metodologia de treinamento: equipamentos eletrônicos para colher dados, planificação de movimentos em campo, atividades específicas de simulação de jogo e treinos táticos, conforme reportado pelos setoristas do clube. Para os mais céticos, pode não parecer muita coisa, mas pesquisando a carreira do argentino – sim, gastei horas lendo e assistindo às entrevistas em vídeos do youtube para entender seu modo de ver futebol -, podemos afirmar que existe uma ideia por trás de tudo, existe um método de futebol sendo implantado.

Holan gosta de treinar e analisar os setores de maneira separada para sincronizar os movimentos dos jogadores. Ele gosta também de variar ao máximo as atividades em campo aberto, ensaiar jogadas e explorar as deficiências da equipe. Por isso não é raro ouvir sobre os drones que gravam as sessões de treinamento, com o intuito de analisar cada pequeno detalhe de posicionamento e execução da atividade por um ângulo melhor. Talvez por ter iniciado sua carreira no hóquei na grama, ele tenha uma visão bem peculiar do futebol. E eu gosto disso.

Ariel Holan é um “freak” por tecnologia, como já sabemos. Ele enxerga o futebol como a junção de aspectos técnicos, físicos, táticos e… médicos! Sim, nosso treinador argentino é um fissurado em extrair o máximo de cada atleta, buscando reduzir qualquer risco de sobrecarregar os jogadores. Essa comunicação entre a equipe de campo e os departamentos médico, fisiológico e até psicológico será imprescindível para uma temporada longa e cheia de obstáculos.

Comportamento com imprensa, torcedores e funcionários do clube: Não precisamos ser especialistas em sociologia para ver que Ariel Holan é uma pessoa carismática e, acima de tudo, educada. Sim, sabemos que no mundo do futebol as aparências podem enganar muitas vezes, mas quando ouvimos relatos em “off” de que tal pessoa é realmente alguém bacana, então podemos confirmar nossas impressões. Os relatos, segundo os veículos que cobrem o Santos, vêm dos próprios funcionários clube, que inevitavelmente compararam sua postura com o último técnico argentino que tivemos. Quanta diferença!

Ariel Holan, desde sua primeira entrevista, fez questão de responder a todas as perguntas dos jornalistas com transparência, sempre dizendo “buenas noches” ou “gracias” a cada pergunta que lhe era feita (às vezes pode passar batido, mas percebemos a postura do ser humano nos pequenos detalhes). Logo em sua primeira semana, anunciou que começaria suas aulas de português, e assim vem fazendo desde então. Já podemos ver o esforço ao utilizar o nosso idioma em todas as entrevistas, buscando se corrigir quando fala alguma palavra de forma errada. Isso demonstra respeito não apenas com a instituição, mas com o país que está lhe acolhendo e, claro, com todos os torcedores santistas espalhados pelo mundo.

Paciência e apoio

Particularmente, estou empolgado com tenho visto de Ariel Holan até o momento. Se a amostragem de jogos ainda é pequena, não podemos negar que existe uma ideia de jogo sendo executada. Existe uma maneira protagonista em campo. Existe um modo audacioso de ver o futebol, sem receio de ter a bola e agredir o adversário.

Hoje temos um comandante estudioso e sereno, juntamente com um grupo de jovens super talentosos. Agora, cabe a nós, torcedores, também darmos a nossa contribuição. Precisamos realmente ser pacientes nessa fase de reformulação do clube, pois finalmente estamos caminhando no rumo certo, dentro e fora das 4 linhas.

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