Por Danilo Hatori, especial para o Espaço do Torcedor do DIÁRIO
Kaiky, 17 anos. Gabriel Pirani, 18 anos. Marcos Leonardo, 17 anos. Ângelo, 16 anos. Poderia ser um grupo de adolescentes de um cursinho pré-vestibular, mas são alguns dos jogadores que entraram em campo na fenomenal vitória do Santos contra o San Lorenzo em pleno Nuevo Gasómetro, casa do Ciclón. Novamente, a base santista se mostra merecedora da fama que o selo “Meninos da Vila” ganhou ao longo de gerações e gerações de jogadores formados no gramado de Urbano Caldeira.
E, de fato, é impressionante o que esses garotos fizeram na Argentina. Claro, não estavam sozinhos, afinal tinham a experiência do “Rei da América” Marinho, de Felipe Jonatan, do bicampeão da Libertadores Pará. Mas, mesmo assim, um feito memorável, e que ainda teve ausências de joias como Kaio Jorge, Sandry e Ivonei – todos, também, entre 18 e 19 anos.
Assim, novamente vemos o potencial que a base do Santos demonstra. Mas, ao mesmo tempo, já nos preocupamos: qual será o futuro deles, e qual o nosso, enquanto torcedor, ao vê-los jogar? Afinal, Kaio Jorge já está em vias de poder assinar um pré-contrato com outros times, e a Fifa sinaliza em diminuir o limite mínimo para assinar um contrato profissional internacional para 16 anos – o que permitiria, em tese, que qualquer garoto saísse antes mesmo de assinar um contrato profissional com o Santos ou qualquer outro clube brasileiro.
Verdade que, no caso específico de Kaio Jorge, tivemos uma falta de gestão de contrato, já que poderíamos ter renovado com ele logo que fez 18 anos. Mesmo assim, parece cada vez mais difícil que vejamos um jogador de destaque ficando até os 21 anos, como foi o caso do Neymar.
E aí vamos a outro ponto: qual a formação que o Santos dá aos jogadores? Será que o Santos está formando, além de atletas, pessoas que tenham capacidade e discernimento para enxergar que é possível ter gratidão pelo clube e que, às vezes, é possível seguir o caminho profissional sem fechar as portas?
Parece-me algo importante porque acho que os clubes, enquanto formadores, acabam não se preocupando com os aspectos que vão além do esportivo, como o psicológico, o educacional, o ético – e, de certo modo, é parte do que faz com que os jogadores virem as costas para o clube num futuro muito próximo.
Se pegarmos algumas das maiores revelações do Santos neste século, temos um jogador que era considerado um candidato a melhor do mundo mas que possivelmente, por uma condenação de estupro, encerrará precocemente a carreira; um “menino” que tem um histórico de polêmicas e casos em que foi visto como “infantil” e “imaturo”; e um atacante que recentemente foi flagrado tentando se esconder em um cassino clandestino em plena pandemia.
Não quero nem vou julgar nenhum deles, mas acho que, enquanto torcedor e sócio, tenho o direito de questionar qual está sendo a educação e a ética que o clube está se preocupando (ou não) em fornecer aos seus atletas.
Óbvio que, desde que sem prejudicar o outro, cada um faz o que quer com a própria vida. Mas não acho que possamos desligar ou achar coincidência que joias da base santista tenham comportamentos tão questionáveis, até no que tange ao rendimento esportivo. Aliás, é interessante ver que são três dos atletas que, ao menos até jogar em algum rival brasileiro, mais demonstram carinho pelo Santos.
Um comportamento, talvez, reflexo do mimo com que foram tratados no clube. Enquanto isso, outros jogadores que não tiveram o mesmo cuidado saem de graça ao final dos contratos, independente dos anos investidos pelo Santos nas respectivas formações.
Então, claro que fico feliz com mais uma leva de jogadores talentosos vindos da frutífera base santista. Mas, volto a perguntar: qual o futuro que teremos com eles, e qual vai ser a contribuição do Santos nesse futuro?
Torçamos para que seja brilhante.
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